Jornalista, músico, cronista e pontepretano de corpo, alma e coração, Zeza Amaral morreu na manhã desta quinta-feira (3), aos 78 anos de idade, no sítio da família em Vargem Grande do Sul, onde passou a viver nos últimos anos. Zeza tinha uma estreita de relação com a Nega Véia, como ele sempre se referia ao clube que sempre amou.
Semanalmente, tinha uma coluna no extinto jornal Diário do Povo, onde relatava suas alegrias e sofrimentos com a Macaca. Mesmo nos momentos mais difíceis do clube, Zeza conseguia externar sua paixão sem deixar mágoas ou críticas incertas contra qualquer dirigente, jogador ou adversário. Era frequentador assíduo do Majestoso.
Seu texto era leve e deliciosamente gostoso para se desfrutar até o final, sempre dando um tom nostálgico e cada vez mais carregado de emoções.
Zeza também era craque em relatar detalhes da vida campineira em suas crônicas da cidade. Suas páginas no YouTube (@ZezaAmaralOficial) e Facebook (Zeza Amaral Oficial) contam com uma pequena parte de sua longa e mágica carreira.
José Antônio Siqueira do Amaral nasceu em Atibaia em 1946, mas logo se mudou para Campinas aos 3 anos de idade com toda família. Se tornou jornalista em 1968 e, a partir de 1970, começou a escrever crônicas. “O cronista é o espião da cidade. A natureza e a vida social interessam ao cronista”, disse Zeza, à Revista Passagens, da Universidade Federal do Ceará, em entrevista publicada em 2018.
Casado com Elizabete Aparecida Ribeiro, a Beth, eterna companheira, Zeza Amaral deixa os filhos Pablo, Diego e Isabela; genro, noras e netos. Também deixa os irmãos Rubens e Cristina. O velório será realizado em Campinas, no Cemitério Flamboyant nesta sexta-feira (4), das 6h30 às 11h30, onde será sepultado.
A comunidade pontepretana está em luto pela passagem de mais um ilustre torcedor e se solidariza com familiares e amigos neste momento de dor. OBRIGADO POR TUDO ZEZA!
Veja a seguir algumas crônicas de Zeza Amaral sobre a sua amada Ponte Preta:
Bom dia, Nega Veia!
Sempre sonho ver os meninos da Ponte Preta erguendo uma taça em qualquer campo, em qualquer torneio. E bem me lembro da faixa transversal que, em 1933, saía do lado direito e se derramava pelo quadril esquerdo. Não sei quando a faixa de eterna campeã cruzou o lado esquerdo para o quadril direito. Apenas sei que a eterna faixa me dizia que teria dores e prazeres, desesperos e grandes alegrias, efêmeras, assim como acontece em todos os dias de nossas vidas, sejamos nós torcedores desse ou daquele time.
Não sou torcedor da Ponte Preta. Antes de mais nada, a Ponte Preta só tem amantes. Não há lugar entre torcedores e apaixonados. Eu apenas amo a Ponte Preta. Torcedores são os outros, que berram, se sentem arrependidos quando derrotados. Eu apenas gosto de ver a Ponte Preta entrando em campo e pouco me importa o resultado. E ela me dá essa alegria de mandar a campo os nossos meninos ponte-pretanos, todos eles que são os nossos filhos e netos de uma velha história, trabalhadores de uma nova geração que buscam um lugar ao sol.
Jogar bola é coisa de prazer, tanto que fizemos isso quando crianças. Complicado é vestir a camisa alvinegra e alimentar um velho amor ponte-pretano. E ali no cimentado do Majestoso estão seus melhores apaixonados, torcendo, aí sim!, para que os meninos ponte-pretanos sigam na vida com mérito e elegância e, principalmente, para que jamais se esqueçam de todos nós que somos e sonhamos para que tenham sucesso na vida, visto que somos apenas mamulengos do grande espetáculo da sobrevivência, aos cordéis da insignificância da nossa vida biológica, mas, sobretudo, ao amor que temos pela Santa Guerra que travamos, diariamente, pela sobrevivência de nossas dores e prazeres, essa coisa de levantar cedo, trabalhar e voltar para casa com o prazer de mais um dia cumprido.
Aos filhos pontepretanos
Não ensino a Deus a criar o Mundo e, tampouco, rico a ganhar dinheiro. Aprender é uma atividade natural; ensinar é antinatural. Qualquer pedagogo sensato sabe disso. Mas ninguém ensina um pontepretano a amar, proteger e ser fiel à sua companheira.
Ninguém pode nos ensinar a respeito de nossas paixões, do quanto nos envolvemos com a emoção de quem nos faz pensar no prazer que ela nos dá, dia e noite, segundo a segundo, pela vida que seguimos e à qual destinamos aos nossos filhos e amigos próximos de bar e esquinas, que, embora em sonhos antagônicos, amantes que são de outras cores, bem sabem que nos é dado agora uma alegria que de há muito aguardada.
Ninguém me ensina a amar o que amo, os muros do Majestoso, seu gramado, suas arquibancadas feitas de suor, paixão, cal, areia e muito cimento e esperança, muros que guardam em cada tijolo um coração pontepretano, um desejo de abraçar o eterno, o futuro de um amor que haveremos de persistir por séculos e séculos.
Ninguém ensina um pontepretano a amar essa energia alvinegra que entra em campo e muito menos poderá nos dizer que a vida nos reserva momentos adversos, mesmo porque apesar de qualquer glória a maior delas já vimos cumprindo com o amor que à Ponte Preta devotamos, sem pequenos ou maiores interesses, apenas desejando que ela siga feliz pela vida, e que nos deixe sempre apaixonados e tontos de amor pelo que der e vier.
Ninguém me ensina a ser um torcedor. Mesmo porque não torço para nenhum time. Antes de mais nada, vim ao mundo para ser um namorado de uma Nega Veia. Sou muitos em mim, sem legião; somos nós e eu; somos tijolos ancestrais, concreto, um imenso e forte muro, somos a memória do futebol brasileiro, somos o que é o futuro dos meninos que pisam o nosso gramado, e que eles saibam que são o futuro que bem deseja os pais para um filho, que sejam felizes e que saibam enfrentar os grandes desafios.
Terra estranha, campo estranho, que os nossos meninos olhem o escudo da camisa para se sentir em casa e saber que não estarão e jamais estiveram perdidos na vida. Pelo contrário, estarão sempre e protegido por seus próprios méritos, pelos seus feitos, contra tudo e contra todos os adversários. E não diga isso a eles, Nega Veia. Disso eles já sabem. Afinal, honra é o que sabem e desejam.
Bom dia.
Texto e pesquisa: Paulo Santana
Fotos: Acervo pessoal